terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A GLÓRIA HUMANA

Vitral A Àrvore da Vida, de Matisse
falar sobre o que nos derrota e força a alma abrir-se
é como ceder à imbecilidade plena e ousar pintar o amor
na tela de nossa pobre vida com as pinceladas de um Matisse!
olhar o mar à espera de alguém serenamente vindo
a beijar-nos o rosto e no abraçar que docilmente traz
escancara a volúpia que nos consome e inaugura
a imensa cova à espreita de nossa humana alma impura!
admirar as gotas de orvalho que, milagrosamente,
no vazio impávido de um deserto, à revelia, brotam
há de nos matar pela ausência de virtude na água que viceja,
para que o olhar daquele homem a sucumbir, penosamente,
por muito a ansiar e a língua toda esticar, sequer a veja!
dito isso, enquanto um ímpeto de glória vagar no peito humano,
não haverá remédio que cure em nossa alma o fatal engano...  

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

TRIBUNAIS DE CONTAS: OBRAS SOB OS RIGORES DA LEI

Benjamim Zymler e Cipriano Sabino, futuros presidentes do TCU e TCE-PA. Foto: Toni Remígio  

A posse de Benjamim Zymler na presidência do Tribunal de Contas da União – TCU para o biênio 2011-2012,  chamou a atenção da imprensa brasileira pela presença do atual e da futura presidente do Brasil. Lula e Dilma Roussef prestaram bastante atenção às palavras do futuro presidente do TCU.

Funcionário de carreira do TCU, engenheiro por formação, Zymler prometeu aumentar o rigor nas fiscalizações das obras do Governo Federal e apontar qualquer irregularidade detectada, mesmo que isso signifique a paralisação até que sejam sanadas as irregularidades, sem sanáveis forem, por óbvio.

Para Benjamin Zymler, zelar pelo dinheiro público significa fazer com que ele seja utilizado na quantidade e no tempo exatos para a efetiva realização de determinado benefício à população. Ou seja, não se trata apenas de rigor formal, como também de eficácia e eficiência no gasto de verbas públicas.

Presente à posse de Benjamim Zymler, o futuro presidente do Tribunal de Contas do Estado do Pará, Cipriano Sabino de Oliveira Junior, na sessão desta semana no TCE, fez declarações no mesmo tom do seu par do TCU.

Sabino disse que o TCE não deve se preocupar tão somente com os aspectos legais de determinado convênio; e nem mesmo se contentar apenas com um laudo que comprove a execução do objeto deste convênio. Para ele, o principal item do processo de fiscalização deve ser verificar se a obra foi realizada exatamente segundo as necessidades da população que será por ela beneficiada.

De fato, de nada adianta um prédio ser erguido, bem pintado, se a população não tiver efetivo acesso, digamos, aos serviços de saúde, em se tratando de um hospital ou um posto de saúde. Nesse caso, segundo Sabino, tratar-se-ia de um verdadeiro elefante branco.

Com base, então, nas palavras dos dois futuros presidentes, os TC’s devem entrar o ano de 2011 com uma meta bem definida: apurar, com os rigores da lei, todas as suspeitas de uso irregular, ou ineficiente, dos recursos públicos. Ganham com isso a população, que quer e precisa de melhores serviços públicos, e os próprios TC’s, cuja imagem tem sido arranhada por denúncias e ações públicas que questionam determinados privilégios dos membros das cortes de contas.

PROFESSORES NÃO SÃO PALHAÇOS: ESTÃO TIRIRICAS COM O GOVERNO FEDERAL!

                                         O palhaço e agora deputado federal Tiririca

Um amigo meu, professor, disse que o Governo Federal planeja equiparar, durante os próximos 10 anos, o salário dos trabalhadores da educação aos melhores salários de outras profissões. A estratégia objetiva reduzir a histórica e vergonhosa distância que há entre a remuneração dos mestres das salas de aula e a de advogados, juízes, e... deputados.

Imediatamente,  a imagem do palhaço Tiririca veio à memória. Semi-analfabeto, ele foi eleito Deputado Federal, e, na mesma semana em que sua diplomação finalmente foi liberada pela justiça, contestada pelo MPE sob a suspeita de ele não saber ler nem escrever, os deputados federais conseguiram aumentar seus salários para mais de R$26.000,00.

Ora, como o próprio Tiririca asseverou, com a sorte que tem na vida, quem sabe decidindo se tornar professor, ele possa reduzir esse tempo de dez anos para imediatamente, pois nem bem entrou na Câmara Federal e já ganhou aumento...

Infelizmente o palhaço não é professor, contudo nós somos tratados como palhaços por aqueles que tratam a educação com o descaso que todos conhecem.

Talvez por isso os professores estejam tiriricas com essa história de dez anos para terem a verdadeira valorização profissional que merecem!            

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

VELHO OESTE NÃO, VELHO PARÁ!


Raifran das Neves, na chegada dos acusados em Belém. Foto: Sidney Oliveira
 O site Weak Leaks revela relatório do governo americano que descreve o Pará como uma terra sem lei, distante e pouco povoada. A morte da missionária Dorothy Stang motivou o relatório com tal descrição de nosso Estado. Na verdade, muito da violência presente no Estado deve-se à guerra de interesses entre os grandes grupos econômicos e a parcela da população que depende exclusivamente da terra para sua sobrevivência.

Daí nascem os confrontos entre as grandes empresas do setor mineral, do agro-negócio, e os moradores das áreas envolvidas nas atividades econômicas dos grupos. Ribeirinhos, indígenas e, sobretudo, trabalhadores rurais, formam o grosso da população que vive em constantes conflitos com os projetos econômicos daquelas empresas.

A posse da terra, sobretudo a partir dos grandes projetos agrícolas, assim como a extração de madeira, seja para a exportação seja para a criação de pastos, tem sido o ponto-chave dos conflitos agrários no Estado.

Foi nesse contexto que ocorreu o assassinato da missionária Dorothy Stang. Ela atuava desde o ano de 1985 junto aos camponeses de Anapu, sudoeste do estado, contra a grilagem e a extração ilegal de madeiras na região. A defesa intransigente da floresta e dos camponeses, suscitou a ira dos fazendeiros contra a missionária americana, assassinada com seis tiros em 2005 por Raifran das Neves, vulgo " fogoió ", a mando de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida.

Quando ouvimos que as grandes empresas que atuam no estado, seja na área de mineração seja do agro-negócio, incluído madeireiras, mantêm relações promíscuas com políticos locais, fazendo doações milionárias para campanhas eleitorais em troca de favores imediatos ou futuros, dentre os quais a omissão quanto às fraudes na emissão de licenças para a extração e transporte ilegais de madeiras, não é de espantar que os americanos continuem avaliando o Pará como uma terra sem  lei. Não é o velho oeste, é o velho Pará.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

OS DERROTADOS

É comum se ouvir dizer que este ou aquele candidato saiu vitorioso ou derrotado das urnas, numa referência clara ao aspecto bélico que caracteriza qualquer pleito eleitoral, no Brasil e em todos os países em que a população, pelo voto, escolhe seus mandatários.

Os postulantes aos cargos eletivos, comparados aos generais, têm a seu dispor exércitos e armas, os quais, estrategicamente e mantidos por vultosos recursos materiais, fazem de tudo para dar a vitória àquele que querem ver no poder, e os que querem o poder, por seu lado, mostram-se dispostos a todo tipo de concessão para o alcançar.

Alguns clichês e frases clássicas sobre a guerra, podem ser usados para caracterizar as eleições gerais deste ano, especialmente no caso do nosso estado do Pará. No amor e na guerra a primeira vitima é sempre a verdade. Clichê. A maior vitória, numa guerra, é aquela conseguida sem precisar lutar. Paráfrase da clássica frase de Sun Tzu no seu "A arte da guerra".

Analisando o cenário eleitoral aqui no Pará, os dois exércitos, o vermelho e o amarelo, apresentaram estratégias distintas e aliados cuja força mostrou-se pífia para um e relevante para outro.
Do lado vermelho, a estratégia nucleou-se na afirmação contundente do quanto foi feito nos quatro anos da administração da governadora Ana Júlia de Vasconcelos Carepa. Para reforçar o discurso foram convocados alguns aliados de fulgor político comprometido, seja pelos constantes episódios de corrupção expostos na mídia, no caso de Duciomar Gomes da Costa, seja por uma evidente falta de equilíbrio lógico-emocional, no caso do ex-governador Almir José de Oliveira Gabriel, causada talvez por uma mágoa insuperada, talvez pelo declínio da razão que a todos um dia alcança, se não morrerem jovens e de cãs ainda intactas.

O fracasso da estratégia de avolumar ao extremo o discurso do que foi feito se revelou no pouco impacto que o mesmo causou junto ao eleitorado. Para justificar o resultado inesperado, ou seja, a derrota nas urnas, a governadora afirmou que houve deficiência na comunicação à população do quanto sua administração realizou nesses quatro anos.

Tratando-se o PT de uma agremiação historicamente eficaz no anúncio midiático do que fez e até do que não fez, não se pode admitir como verdadeira a afirmação da dignissima governadora. Se tivesse realizado o tanto que diz, o povo, que não é cego nem surdo, talvez nem precisasse de tanta propaganda para atestar as obras que Sua Excelência apregoa ter realizado. E reconheceria isso nas urnas!

O erro na escolha dos aliados se expôs tanto na ausência do prefeito de Belém nos programas eleitorais e comícios da governadora quanto na total nulidade do esforço empreendido pelo ex-governador para tentar tirar votos do ex-amigo Simão Robson de Oliveira Jatene, o general do exército amarelo.

Levado à vida política por Jader Fontenelle Barbalho, de quem foi secretário, o ex-governador tornou-se inimigo político de seu patrono, para lançar-se candidato ao governo. Vitorioso, em 1994, escolheu como secretário de planejamento Simão Jatene. Depois de dois mandatos, lançou-o candidato à sua sucessão, o que ocorreu de fato em 2002. Sonhando em voltar ao terceiro mandato por sufrágio popular, o ex-governador, ainda tucano, requereu ao então amigo que gentilmente abrisse mão de sua provável reeleição. Aceita a solicitação, Almir Gabriel foi derrotado nas urnas por Ana Júlia, em 2006.

Convencido que perdeu as eleições pelo pouco empenho de Simão Jatene, Almir Gabriel iniciou imediatamente um processo irreversível de vingança, cujo desfecho teve dois pontos culminantes: a reconciliação com Jader Barbalho e o apoio, no segundo turno, àquela que o acusava, até o dia imediatamente anterior ao apoio, de ter sido o autor intelectual da morte dos 19 sem-terra de Eldorado dos Carajás.

Fotos e sorrisos estamparam a espantosa mudança de prática e discurso daquele a quem muitos ainda admiram, decepcionados, talvez, pelo ocaso lamentável de um história política repleta de feitos e fatos. Sucumbiu ao transe de ver concretizada, na eleição de Simão Jatene, a possibilidade da criatura tornar-se maior que o criador. Orgulho e vaidade explicam o revanchismo infantil de um senhor septuagenário!

De todos os perdedores nessas eleições aqui no Pará, Jader Barbalho, barrado pela Ficha Limpa, astuciosamente é o único que, ao fim e ao cabo, não deixará que seu partido, o PMDB, saia de mãos abanando do Governo Estadual. Afinal, liberando o partido para apoiar qualquer ou nenhum dos candidatos, o resultado das urnas não alijaria por completo o partido de nacos do poder. Apesar de ele próprio não ter declarado apoio a nenhum dos candidatos, curiosamente, os caciques do partido, incluindo Domingos Juvenil e os que receberam as maiores votações, optaram por Simão Jatene. Maior apoio, maior cobrança. Simples assim.

Quanto ao vencedor, Simão Jatene, restam os parabéns e a cobrança de que, nos próximos quatro anos, arregace as mangas, ponha nos pés as botas e na cabeça o capacete, para trabalhar muito a fim de reduzir a pobreza, as doenças e o analfabetismo em nosso estado do Pará. Haverá milhões de fiscais, os que votaram e os que não votaram nele, na expectativa de que os discursos tornem-se prática. Porque, do contrário, a vitória de hoje será a derrota de amanhã.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ENTRE O BEM E O MAL, RESTA ALGUMA DÚVIDA?

Quando crianças, somos advertidos pelos adultos sobre os perigos que nos assediam. João Pedro, meu filho de 01 ano, teima em querer colocar o dedo na tomada. Às vezes é preciso ir além da advertência verbal para que ele entenda o quanto pode ser prejudicial à sua vida levar um choque.


Somos levados, pois, desde a infância, a crer que existe o certo e o errado, aquilo que nos faz bem e o que nos prejudica. Suavemente alguns conceitos vão se introduzindo em nossa consciência, a ponto de, a partir de um estágio, não aceitarmos mais, sem questionar, fatos, palavras, ordens e imposições.


Não se trata de filosofia ou religião. Não estamos falando de algo que possa se restringir a um ou outro campo do conhecimento humano. Não se trata de observar as coisas em perspectiva. Trata-se simplesmente de estar bem nítida em nossa percepção dos fatos alguma coisa que é, em si mesma, inaceitável ou, pelo menos, questionável.


Tomemos por exemplo de coisas questionáveis as reações dos candidatos barrados pela lei da Ficha Limpa nas eleições deste ano.


Todos os que foram impedidos de concorrer e os que, concorrendo e sendo votados, não poderão ser diplomados em função de terem sido considerados “fichas sujas”, foram céleres às mídias afirmar que estão sendo vítimas de práticas anti-democráticas, que violam seus direitos constitucionalmente garantidos de se colocar à disposição do sufrágio eleitoral, o qual, por ser fruto da vontade do povo, tem soberania essencial que jamais poderá ser desprezada sob qualquer pretexto.


E, vestindo a beca de defensores dessa soberania popular, políticos derrotados pela Lei usam artifícios verbais para vender à população a ideia de que ambos, povo e reclamante, foram vitimados pela arbitrariedade de quem não respeita os desígnios daqueles a quem cabe o exclusivo veredito sobre qual político deve ou não representá-los na vida pública.


No entanto, ao usar o jogo de palavras, com forte ênfase emocional, os políticos reclamantes dão razão a tantos quantos dizem ser a política a arte da manipulação. Fornecendo elementos falsos, manipula-se a consciência do indivíduo dando a ele o suposto poder de decidir seu destino, omitindo a verdade e negando a esse mesmo indivíduo a possibilidade de entender a manipulação de que é vítima e, por esse motivo, em última análise, jamais ele decidirá contra quem o manipula.


Ora, se existe uma lei de origem popular que definiu critérios para que candidatos pudessem concorrer a cargos eletivos, e se existem candidatos que foram atingidos pelos termos dessa lei, como aceitar que o político atingido diga, declare, afirme, que tal lei afronta a vontade popular, colocando lado a lado o número de pessoas que subscreveram a lei e o de pessoas que nele votaram? Que artimanha é essa? Que interesses escusos havia na intenção das pessoas que buscaram a criação e a aprovação da lei? Que afronta à correção de conduta, à justiça que deve haver nos atos, e à ética na vida pública, pode ser apontada na boa fé daqueles que insistiram junto aos seus parlamentares para que aprovassem a Lei da Ficha Limpa?


E isso se tão somente fosse aceitável o artifício de se contrapor contabilmente as pessoas, numa espécie de balanço para ver quem tem mais apoio: a lei ou o político por ela alcançado. Isso cheira a escárnio, posto que as pessoas que lutaram pela aprovação da Lei Complementar nº 135, representam todos os brasileiros que clamam por uma Nação em que haja justiça social, que seja livre da corrupção, livre dos maus funcionários públicos, de qualquer esfera ou graduação.


E de todos os servidores públicos, os políticos são os que maior carga de responsabilidade carregam nos ombros. Trata-se da classe cuja atuação funcional determina o destino do Estado, e, por tabela, da vida das pessoas. A atuação dos políticos (como a elite dos servidores públicos) pode determinar mais e melhor educação; mais e melhor saúde; mais e melhor segurança; mais e melhor moradia; mais empregos. Mais cidadania, portanto, para as pessoas de nosso país.


Foi pensando numa Pátria que dê iguais condições de vida para seus filhos que a Lei da Ficha Limpa, dentre tantas ações oriundas de iniciativas da sociedade civil organizada, surgiu e deve ser defendida por todas as pessoas de bem que moram nesse país. Há pessoas que são contra esse tipo de Lei. É natural, pois entre o bem e o mal alguns sempre têm dúvidas, certo?

Morreu por um Boné

Cabeça oca,
sem sentimento
Nem o boné
na cabeça de vento!
Morreu à toa,
Lá na garoa
De São Paulo;
Leandro ia
Pela Paulista,
Quando o avista
Um malandrinho
Que assobiava
Um rapizinho!
Logo chegou:
"Me dá boné,
Seu mané!"
Leandro quis reagir
Feito um cachorro
Pôs-se a latir
E o seu osso,
O seu boné,
Tirou-lhe a vida
Quebrou o pescoço!
Um empurrão
Levou ao chão
Aquele jovem
E o sonho vão...
Bateu cabeça
Lá na calçada
Que, bem lavada,
De sangue então,
Presenciou
a morte fútil
De um jovenzinho
Boné inútil!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

meu berço e minha cova


Meu berço e minha cova
Meu grito e meu canto
Meu sonho e meu espanto
Que me consola e prova!

Se tenho logo esqueço
Se perco, não procuro,
Sou homem, aqui não duro:
É a vida que eu teço!

Por trás dessa ventura,
Que se avoluma e finda,
Anseio ter ainda
Pra tanta dor a cura!

Dos olhos que me afastam
Não tenho mais o amor,
E em seu último favor
Há lâminas que gastam

De mim o pouco brilho
Restante no caminho,
Que, louco e sozinho,
Desamparado eu trilho!