segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ENTRE O BEM E O MAL, RESTA ALGUMA DÚVIDA?

Quando crianças, somos advertidos pelos adultos sobre os perigos que nos assediam. João Pedro, meu filho de 01 ano, teima em querer colocar o dedo na tomada. Às vezes é preciso ir além da advertência verbal para que ele entenda o quanto pode ser prejudicial à sua vida levar um choque.


Somos levados, pois, desde a infância, a crer que existe o certo e o errado, aquilo que nos faz bem e o que nos prejudica. Suavemente alguns conceitos vão se introduzindo em nossa consciência, a ponto de, a partir de um estágio, não aceitarmos mais, sem questionar, fatos, palavras, ordens e imposições.


Não se trata de filosofia ou religião. Não estamos falando de algo que possa se restringir a um ou outro campo do conhecimento humano. Não se trata de observar as coisas em perspectiva. Trata-se simplesmente de estar bem nítida em nossa percepção dos fatos alguma coisa que é, em si mesma, inaceitável ou, pelo menos, questionável.


Tomemos por exemplo de coisas questionáveis as reações dos candidatos barrados pela lei da Ficha Limpa nas eleições deste ano.


Todos os que foram impedidos de concorrer e os que, concorrendo e sendo votados, não poderão ser diplomados em função de terem sido considerados “fichas sujas”, foram céleres às mídias afirmar que estão sendo vítimas de práticas anti-democráticas, que violam seus direitos constitucionalmente garantidos de se colocar à disposição do sufrágio eleitoral, o qual, por ser fruto da vontade do povo, tem soberania essencial que jamais poderá ser desprezada sob qualquer pretexto.


E, vestindo a beca de defensores dessa soberania popular, políticos derrotados pela Lei usam artifícios verbais para vender à população a ideia de que ambos, povo e reclamante, foram vitimados pela arbitrariedade de quem não respeita os desígnios daqueles a quem cabe o exclusivo veredito sobre qual político deve ou não representá-los na vida pública.


No entanto, ao usar o jogo de palavras, com forte ênfase emocional, os políticos reclamantes dão razão a tantos quantos dizem ser a política a arte da manipulação. Fornecendo elementos falsos, manipula-se a consciência do indivíduo dando a ele o suposto poder de decidir seu destino, omitindo a verdade e negando a esse mesmo indivíduo a possibilidade de entender a manipulação de que é vítima e, por esse motivo, em última análise, jamais ele decidirá contra quem o manipula.


Ora, se existe uma lei de origem popular que definiu critérios para que candidatos pudessem concorrer a cargos eletivos, e se existem candidatos que foram atingidos pelos termos dessa lei, como aceitar que o político atingido diga, declare, afirme, que tal lei afronta a vontade popular, colocando lado a lado o número de pessoas que subscreveram a lei e o de pessoas que nele votaram? Que artimanha é essa? Que interesses escusos havia na intenção das pessoas que buscaram a criação e a aprovação da lei? Que afronta à correção de conduta, à justiça que deve haver nos atos, e à ética na vida pública, pode ser apontada na boa fé daqueles que insistiram junto aos seus parlamentares para que aprovassem a Lei da Ficha Limpa?


E isso se tão somente fosse aceitável o artifício de se contrapor contabilmente as pessoas, numa espécie de balanço para ver quem tem mais apoio: a lei ou o político por ela alcançado. Isso cheira a escárnio, posto que as pessoas que lutaram pela aprovação da Lei Complementar nº 135, representam todos os brasileiros que clamam por uma Nação em que haja justiça social, que seja livre da corrupção, livre dos maus funcionários públicos, de qualquer esfera ou graduação.


E de todos os servidores públicos, os políticos são os que maior carga de responsabilidade carregam nos ombros. Trata-se da classe cuja atuação funcional determina o destino do Estado, e, por tabela, da vida das pessoas. A atuação dos políticos (como a elite dos servidores públicos) pode determinar mais e melhor educação; mais e melhor saúde; mais e melhor segurança; mais e melhor moradia; mais empregos. Mais cidadania, portanto, para as pessoas de nosso país.


Foi pensando numa Pátria que dê iguais condições de vida para seus filhos que a Lei da Ficha Limpa, dentre tantas ações oriundas de iniciativas da sociedade civil organizada, surgiu e deve ser defendida por todas as pessoas de bem que moram nesse país. Há pessoas que são contra esse tipo de Lei. É natural, pois entre o bem e o mal alguns sempre têm dúvidas, certo?

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