terça-feira, 14 de dezembro de 2010

OS DERROTADOS

É comum se ouvir dizer que este ou aquele candidato saiu vitorioso ou derrotado das urnas, numa referência clara ao aspecto bélico que caracteriza qualquer pleito eleitoral, no Brasil e em todos os países em que a população, pelo voto, escolhe seus mandatários.

Os postulantes aos cargos eletivos, comparados aos generais, têm a seu dispor exércitos e armas, os quais, estrategicamente e mantidos por vultosos recursos materiais, fazem de tudo para dar a vitória àquele que querem ver no poder, e os que querem o poder, por seu lado, mostram-se dispostos a todo tipo de concessão para o alcançar.

Alguns clichês e frases clássicas sobre a guerra, podem ser usados para caracterizar as eleições gerais deste ano, especialmente no caso do nosso estado do Pará. No amor e na guerra a primeira vitima é sempre a verdade. Clichê. A maior vitória, numa guerra, é aquela conseguida sem precisar lutar. Paráfrase da clássica frase de Sun Tzu no seu "A arte da guerra".

Analisando o cenário eleitoral aqui no Pará, os dois exércitos, o vermelho e o amarelo, apresentaram estratégias distintas e aliados cuja força mostrou-se pífia para um e relevante para outro.
Do lado vermelho, a estratégia nucleou-se na afirmação contundente do quanto foi feito nos quatro anos da administração da governadora Ana Júlia de Vasconcelos Carepa. Para reforçar o discurso foram convocados alguns aliados de fulgor político comprometido, seja pelos constantes episódios de corrupção expostos na mídia, no caso de Duciomar Gomes da Costa, seja por uma evidente falta de equilíbrio lógico-emocional, no caso do ex-governador Almir José de Oliveira Gabriel, causada talvez por uma mágoa insuperada, talvez pelo declínio da razão que a todos um dia alcança, se não morrerem jovens e de cãs ainda intactas.

O fracasso da estratégia de avolumar ao extremo o discurso do que foi feito se revelou no pouco impacto que o mesmo causou junto ao eleitorado. Para justificar o resultado inesperado, ou seja, a derrota nas urnas, a governadora afirmou que houve deficiência na comunicação à população do quanto sua administração realizou nesses quatro anos.

Tratando-se o PT de uma agremiação historicamente eficaz no anúncio midiático do que fez e até do que não fez, não se pode admitir como verdadeira a afirmação da dignissima governadora. Se tivesse realizado o tanto que diz, o povo, que não é cego nem surdo, talvez nem precisasse de tanta propaganda para atestar as obras que Sua Excelência apregoa ter realizado. E reconheceria isso nas urnas!

O erro na escolha dos aliados se expôs tanto na ausência do prefeito de Belém nos programas eleitorais e comícios da governadora quanto na total nulidade do esforço empreendido pelo ex-governador para tentar tirar votos do ex-amigo Simão Robson de Oliveira Jatene, o general do exército amarelo.

Levado à vida política por Jader Fontenelle Barbalho, de quem foi secretário, o ex-governador tornou-se inimigo político de seu patrono, para lançar-se candidato ao governo. Vitorioso, em 1994, escolheu como secretário de planejamento Simão Jatene. Depois de dois mandatos, lançou-o candidato à sua sucessão, o que ocorreu de fato em 2002. Sonhando em voltar ao terceiro mandato por sufrágio popular, o ex-governador, ainda tucano, requereu ao então amigo que gentilmente abrisse mão de sua provável reeleição. Aceita a solicitação, Almir Gabriel foi derrotado nas urnas por Ana Júlia, em 2006.

Convencido que perdeu as eleições pelo pouco empenho de Simão Jatene, Almir Gabriel iniciou imediatamente um processo irreversível de vingança, cujo desfecho teve dois pontos culminantes: a reconciliação com Jader Barbalho e o apoio, no segundo turno, àquela que o acusava, até o dia imediatamente anterior ao apoio, de ter sido o autor intelectual da morte dos 19 sem-terra de Eldorado dos Carajás.

Fotos e sorrisos estamparam a espantosa mudança de prática e discurso daquele a quem muitos ainda admiram, decepcionados, talvez, pelo ocaso lamentável de um história política repleta de feitos e fatos. Sucumbiu ao transe de ver concretizada, na eleição de Simão Jatene, a possibilidade da criatura tornar-se maior que o criador. Orgulho e vaidade explicam o revanchismo infantil de um senhor septuagenário!

De todos os perdedores nessas eleições aqui no Pará, Jader Barbalho, barrado pela Ficha Limpa, astuciosamente é o único que, ao fim e ao cabo, não deixará que seu partido, o PMDB, saia de mãos abanando do Governo Estadual. Afinal, liberando o partido para apoiar qualquer ou nenhum dos candidatos, o resultado das urnas não alijaria por completo o partido de nacos do poder. Apesar de ele próprio não ter declarado apoio a nenhum dos candidatos, curiosamente, os caciques do partido, incluindo Domingos Juvenil e os que receberam as maiores votações, optaram por Simão Jatene. Maior apoio, maior cobrança. Simples assim.

Quanto ao vencedor, Simão Jatene, restam os parabéns e a cobrança de que, nos próximos quatro anos, arregace as mangas, ponha nos pés as botas e na cabeça o capacete, para trabalhar muito a fim de reduzir a pobreza, as doenças e o analfabetismo em nosso estado do Pará. Haverá milhões de fiscais, os que votaram e os que não votaram nele, na expectativa de que os discursos tornem-se prática. Porque, do contrário, a vitória de hoje será a derrota de amanhã.

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